O Sol há de brilhar mais uma vez!
É com essa certeza, extraída dos versos de um lindo samba do grande Nelson Cavaquinho em parceria com Élcio Soares, que a Ação Libertadora Estudantil (ALE) está em campanha rumo ao 55° Congresso da UNE (ConUNE).
O movimento, que tem a gloriosa Ação Libertadora Nacional (ALN) como herança e eterna inspiração, não poderia jamais se ausentar da construção e disputa da União Nacional dos Estudantes (UNE). E em tempos de trevas, devemos afirmar que não temos nada a temer! E que o Sol há de brilhar mais uma vez…
Afinal: a UNE somos nós! Nossa força, nossa voz!
A entidade máxima da representação estudantil universitária de nosso país completará 80 anos ainda em 2017. São oito décadas de muita garra e luta pela educação e por um melhor destino ao povo brasileiro. Ao longo desse período, a UNE acumulou cicatrizes e sorrisos, marcas da dor e alegria de um povo guerreiro, o povo brasileiro.
A UNE lutou pela entrada do Brasil na Grande Guerra contra o nazifascismo; lutou pela criação da Petrobrás; lutou contra a ditadura militar; a UNE sangrou nos porões da ditadura, e muitos dos estudantes mortos, torturados e desparecidos eram militantes da velha Ação Libertadora Nacional (ALN); a UNE lutou pela redemocratização do país; a UNE lutou contra os governos neoliberais (Collor e FHC) e suas privatizações; a UNE lutou pela democratização do acesso ao ensino superior nos governos progressistas; e mais recentemente, a UNE combateu o ajuste fiscal do Governo Dilma, que cortou recursos da educação, porém, depois, sem titubear, a UNE combateu e segue a combater o golpe de 2016.
Se muito vale o já feito, mais vale o que será…
É fundamental reconhecer que a UNE precisa mudar suas instâncias e formas de deliberação. É preciso permitir que o novo estilo dos movimentos de massa seja incorporado pela UNE. A burocracia exacerbada é um entrave à mobilização estudantil e ao próprio reconhecimento da entidade, algo que gera problemas de legitimidade social. Mesmo com toda a dinâmica atual, na prática somente participam da UNE estudantes vinculados ou conduzidos pelos movimentos estudantis organizados. E o processo de eleição de delegados é notoriamente pouco acessível e de baixa participação e entendimento da base estudantil.
No último congresso, e nosso primeiro, a ALE defendeu a proposta de eleições diretas para a escolha da direção da UNE (“Diretas já”). Neste próximo congresso, flexibilizaremos a defesa desse método eleitoral em virtude da ascensão de grupos reacionários que visam criminalizar a UNE por meio de CPI’s e outras ações persecutórias. São grupos que participaram ativamente do golpe de 2016, e que em eventual eleição direta para a UNE hoje, certamente teriam uma força absurda e irreal (com apoio dos monopólios da comunicação e dos banqueiros). Por isso, não levantaremos a bandeira das “diretas”. No entanto, faremos um apelo pela reflexão coletiva sobre a continuidade do anacrônico processo de tiragem de delegados.
A UNE que queremos é a UNE que assumirá uma tarefa patriótica e popular em defesa do Brasil e do povo! A UNE que queremos deve cumprir um papel indispensável na elaboração de uma frente ampla programática contra os retrocessos! A UNE que queremos é a UNE que derrotará Temer e o golpismo, colocando o Brasil nos trilhos do futuro de desenvolvimento econômico e da ampliação dos direitos sociais… Ou seja, a UNE que queremos não deve ser favorável a levar o país para o passado recente de covardia e desilusões!
Todavia, a Ação Libertadora Estudantil possui uma política de amplitude, diálogo e unidade nas entidades estaduais e nacionais, combatendo a artificialização das disputas, o puritanismo, o sectarismo, o divisionismo e, por fim, a desarticulação das mobilizações estudantis. E isso deve ser reforçado nesse momento de avanço reacionário e de golpes contra o povo.
Outros Outubros virão… Outras manhãs, plenas de sol e de luz…
Em 2017 completa-se 100 anos do maior acontecimento da história da humanidade, e não por acaso o mais ousado. Trata-se da expressão mais generosa de mudança sistêmica, um feito histórico da classe trabalhadora que inaugurou toda uma era de revoluções proletárias pelo mundo ao longo do século XX. Em verdade, qualquer explicação e adjetivação será menor diante da importância da Revolução Russa para a luta dos povos explorados. Na educação, nunca é demais lembrar que o analfabetismo era gigante na Rússia antes de 1917, e depois da Revolução, a educação russa (soviética) tornou-se a melhor do mundo. É por isso que nesses dias sombrios, sempre é importante recordar que outros Outubros virão… Outras manhãs, plenas de sol e de luz…
E a luz há de chegar aos corações…
A noite de retrocessos não deve continuar. O povo brasileiro saberá escolher um novo caminho para o país, que não é evidentemente o atual, contudo, também não deverá ser o do passado recente.
A unidade contra o Governo Temer é a ordem do dia. Fortalecer as mobilizações contra o pacote de maldades do golpismo é uma tarefa indispensável. Entretanto, é preciso ir além. Precisamos de todo esforço para colocar uma perspectiva de mudança. Precisamos elaborar a configuração de uma frente ampla em forma de movimento patriótico e popular: uma missão programática pelo desenvolvimento econômico nacional e pela ampliação de direitos sociais ao povo. E essa grandiosa tarefa precisa da UNE.
Assim, mais do que nunca, é fundamental que a UNE não se deixe mais levar pelo “dilmismo” ou pelo “lulismo”, sob pena da UNE receber das massas o mesmo tratamento que o PT tem recebido. O PT (Partido dos Trabalhadores) atualmente é um inviabilizador da elaboração da frente ampla. Vale lembrar que só não cabem na frente ampla os inimigos da pátria e do povo, ora contrários ao programa da frente, e em especial os banqueiros e demais setores títeres do imperialismo ianque. Porém, ainda que em tese pudesse estar, na prática, atualmente o PT afasta diversos segmentos sociais, não só os setores produtivos da indústria e agroindústria, tão importantes à retomada do crescimento, como também as camadas médias, e até mesmo a própria classe trabalhadora! Lamentavelmente, pelos ataques da grande mídia, pelas operações sensacionalistas do judiciário, e também, não se pode negar, pelas vacilações constantes, pelos próprios erros e insistência nos equívocos, o PT é atualmente um elemento antagônico à proposta de ampliação das forças políticas. Infelizmente, o anti-petismo venceu. E claro, o PT se esforçou para tanto. Vale lembrar do ajuste fiscal do Governo Dilma, dos leilões de pré-sal, da alta taxa de juros, da política econômica voltada ao rentismo, da covardia sobre as reformas cruciais (em particular, na questão dos meios de comunicação, na reforma política e no judiciário), dos vacilos da política externa na América Latina, do autonomismo da polícia federal, dos tristes ensaios de reforma da previdência e flexibilização da CLT, das bizarras indicações ao STF, da lei antiterrorismo, e dentre outros absurdos dos governos petistas, para não mencionar no tema da corrupção.
Aceitar esse novo quadro da luta política não retira em nada a nossa disposição contra o golpismo de Temer. Ao contrário, ter a lucidez sobre o campo de batalha nos permite armar novas táticas para sair do isolacionismo, se afastar do identitarismo pós-moderno, e enfim, recolocar o campo progressista no centro de um projeto nacional e popular. Evidentemente também que a afirmação da análise corrente não impede o exercício de diálogo com o PT e suas inúmeras tendências na UNE e no cotidiano das lutas, nada disso. Verdadeiramente, a afirmação da ALE é que o PT não possui mais condições políticas de dirigir o campo progressista brasileiro, em especial nas próximas eleições presidenciais de 2018, que inclusive precisam ser garantidas pelo nosso combate ao golpismo.
Ousar lutar, ousar vencer
Fora Temer: Contra o congelamento da educação e demais investimentos sociais! Contra o fim da aposentadoria (Reforma da Previdência)! Contra a terceirização!
Em defesa da universidade pública: Contra o sucateamento! Contra a cobrança de mensalidades (nas públicas) e contra a privatização!
Em defesa dos/das bolsistas, dos/das professores/as, e dos/das servidores/as: Contra os atrasos salariais! Contra os atrasos das bolsas estudantis! Por um reajuste anual justo!
Em defesa do FIES e do PROUNI: Pelo direito de estudar! Queremos ter nosso diploma!
Educação não é mercadoria: Contra o aumento abusivo das mensalidades (nas privadas)! Pela regulamentação do ensino privado!
Em defesa do Ciência Sem Fronteiras e demais programas educacionais: A extinção do programa é um ataque à produção de conhecimento nacional!
Pela assistência estudantil: Cotistas nas universidades públicas, beneficiários do FIES ou PROUNI (“prounistas”) nas universidades privadas, e estudantes pobres, filhos da classe trabalhadora no geral, precisam de todo amparo e assistência das instituições de ensino superior! Isenções de xerox e taxas; creches universitárias; alimentação popular; moradia estudantil; bolsas justas; essas são algumas das bandeiras que levantamos nas universidades no cotidiano, e que vamos aproveitar o Congresso da UNE para debater as experiências de luta pela assistência estudantil.
Por uma educação libertadora: Contra todas as opressões! Contra o machismo, o racismo, a homofobia, e qualquer outra forma de opressão!
Redução dos juros já: Se tem dinheiro pra banqueiro, por que não tem pra educação? A redução dos juros é o primeiro passo pro Brasil voltar a crescer!
O Pré-Sal é nosso: E a Petrobrás também! Somos contra a entrega do Pré-Sal e de qualquer riqueza nacional!
O Sol nascerá para todos!
Nossa luta não é de hoje. Podemos ser jovens estudantes. Mas não começamos agora. Somos apenas a continuidade de homens e mulheres que ao longo dos séculos buscaram a emancipação da humanidade. E a educação é uma questão central, é um problema singular a ser resolvido. Afinal, é pela educação que se forma uma sociedade. É pela educação que se produz o conhecimento que serve de base a um sistema. A educação é um elemento vital da superestrutura de toda a nossa luta. Darcy Ribeiro já dizia que a crise da educação não é uma crise, mas um projeto das elites dominantes contra o povo. É contra esse projeto que lutamos. Lutamos pela educação que o Brasil precisa, lutamos pelo Brasil que sonhamos!
Há quase cem anos, trabalhadores, trabalhadoras, intelectuais, artistas e estudantes, ousaram lutar e ousaram vencer. Há quase cem anos, o Sol nascia para todos… E hoje, em meio a um golpe do imperialismo norte-americano, então aliado com banqueiros e com corruptos do parlamento e do judiciário brasileiro; em meio a um Brasil de trevas, Temer e escuridão; em meio a tantos ataques reacionários; diante de tantas derrotas e capitulações; nós queremos levantar bem alto a bandeira da vitória. Porque nós sabemos… Nós iremos vencer: venceremos!
O Sol há de brilhar mais uma vez! A nossa Pátria mãe gentil será livre! E que longe vá temor servil, pois a nossa Brava Gente Brasileira libertará o Brasil!
“O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente
É o juízo final
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer”
(Nelson Cavaquinho e Élcio Soares – Juízo Final)