Em 2015 foi fundado o núcleo da Ação Libertadora Estudantil na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Naquele ano a eleição seria marcada por um edital no mínimo suspeito, e acabaria sendo apenas uma chapa inscrita, a da gestão, então comandada pela juventude do PT (Partido dos Trabalhadores). Importante recordar que um ano antes, em 2014, a Ação Libertadora Estudantil (ALE) orientou a participação de militantes externos no apoio à chapa da juventude petista contra a chapa da UJS (União da Juventude Socialista/PCdoB). Entretanto, após a vitória, a ALE nunca foi convidada para quaisquer eventos da gestão, e em 2015 quando iniciaria o movimento de oposição teve sua chapa impedida de concorrer em virtude do estranho edital já citado.
Ano passado, 2016, a ALE experimentou as urnas da Unisinos com a chapa “Novo DCE”, uma pequena chapa de oposição ao DCE então dirigido pelo Levante Popular da Juventude (juventude da Consulta Popular, corrente “externa” do PT) e por outros movimentos menores da juventude petista. Mesmo com muita dificuldade, a chapa foi bem e surpreendeu com uma expressiva votação de quase 600 votos numa eleição bastante tumultuada por conta da grotesca participação de uma empresa contratante de mesários na condução do processo eleitoral. A eleição acabou sendo vencida pela chapa da gestão petista, e em segundo lugar ficou a chapa do esquerdismo (PCB – partido comunista brasileiro; RUA – movimento de juventude de algumas correntes do PSOL; e Juntos – movimento de juventude do MES, corrente do PSOL). Contudo, a diferença de votos entre a chapa eleita e a nossa foi em torno de 180 votos, e a diferença entre a nossa e a segunda colocada foi menor que 100 votos, algo muito encurtado para uma chapa feita às pressas pela ALE.
Diante disso, ganhar o DCE-Unisinos tornou-se uma meta para o ano de 2017. Uma meta possível e necessária, haja vista a vontade majoritária dos estudantes da Unisinos em ter um novo DCE, considerando a soma dos votos da oposição em 2016. Após essa eleição, foi criado o Movimento por um novo DCE, que foi um pontapé inicial para formação da chapa deste ano. O trabalho de base desse movimento foi silencioso e paciente. Ao seu redor foram adicionados estudantes de diferentes posições políticas que tinham como único objetivo a construção de um novo DCE.
Em 24 de agosto, a ALE-Núcleo Unisinos conseguiu levar o companheiro Ciro Gomes para uma palestra no Anfiteatro Padre Werner, que ficou completamente lotado. Esse evento permitiu um grande salto militante da ALE-Unisinos. E a chapa de oposição “Novo DCE” começou a ser afirmada para disputa contra a chapa situacionista do PT.
Durante o procedimento de articulação da chapa, a Ação Libertadora Estudantil abriu diálogo com as forças da chapa esquerdista derrotada em 2016. E o “Juntos”, movimento da juventude do MES (movimento de esquerda socialista, corrente interna do PSOL), embora não faça parte da nominata, veio a se somar no apoio à chapa Novo DCE. Compreendemos que a amplitude seja indispensável nos processos políticos atuais, e que a unidade deva ser resultado da produção de sínteses coletivas, não sendo algo impositivo e artificial. Embora tenhamos entendimento nacional acerca da participação nos campos dirigentes das entidades estudantis, e sejamos refratários às análises esquerdistas e sectárias dos campos de oposição na UNE/UBES, não enxergamos com bom olhar a edificação do lulismo no chamado “campo majoritário”. E não raro faremos, desde a base, o desmantelamento do lulismo, mesmo que para isso fissuras internas sejam expostas, posto que a Ação Libertadora Estudantil tenha um projeto de educação, a educação que o Brasil precisa, a educação necessária rumo à educação popular, carregada hoje pela força do companheiro Ciro Gomes.
Mais que isso, compreendemos o Juntos enquanto força viva na sociedade, especialmente entre estudantes do Rio Grande do Sul. Independentemente de nossas grandes divergências ideológicas, sabemos reconhecer o trabalho desse importante movimento estudantil, e inclusive saberemos ter gratidão com a lealdade e generosidade no cumprimento de acordos táticos. Mesmo com análises políticas bem distintas, acabou que em virtude das limitações das forças políticas tanto do nosso campo quanto do deles, podemos afirmar que o Juntos é hoje um parceiro privilegiado em nosso cotidiano até que se prove o contrário. De outra parte, totalmente distante, encontra-se a nossa relação com as forças do PT. E agora também, mais do que nunca, a nossa relação com o Levante Popular da Juventude. O tensionamento permanente e aguçado na eleição do DCE-Unisinos nos obriga a afirmar que dificilmente teremos relações harmoniosas novamente. Pois em que pese o razoável diálogo com bons elementos dessa organização juvenil, no geral a ALE entende que o Levante e os diversos movimentos da juventude petista serão adversários cada vez mais inerentes e intensos no dia a dia estudantil.
Cumpre destacar o papel da UJS/PCdoB nesse processo da Unisinos e em outros processos de eleições estudantis estaduais. É dado concreto que nossa relação nacional configurada nas bandeiras da amplitude e da unidade na resistência ao golpismo não se traduz na prática estadual do Rio Grande do Sul. Por diversos fatores, inclusive por recair bastante no sectário pós-modernismo, a UJS estadual tem se tornado invariavelmente uma adversária da ALE. Entretanto, esperamos que seja uma simples questão de amadurecimento, enquadramento e tempo político para que a UJS abandone o campo petista, e venha construir o projeto nacional e popular de Ciro Gomes em 2018, ou que pelo menos reconsidere positivamente sua relação com a ALE. Essa é a nossa vontade, porém obviamente tendo paradigmas claros de pontos de convergência e divergência.
Sobre a eleição em si do Diretório Central dos Estudantes da Unisinos, conforme já relatado, foi uma disputa tensa e desgastante. A produção de absurdos por parte da chapa situacionista e o estilo abertamente esquerdista dessa obrigou o reforço tático da elaboração de uma chapa “melancia” por parte da ALE. E assim fomos até o fim. A gritaria, a caluniação, as acusações infundadas, o identitarismo exacerbado, a proliferação de mentiras, a presença de bate-paus da CUT (Central Única dos Trabalhadores), enfim, nada disso foi capaz de nos intimidar nem de parar a força invencível da Ação Libertadora Estudantil na eleição do DCE-Unisinos.
O segredo da nossa conquista está para além do camaleonismo da ALE, o segredo está na disciplina, na malandragem, na moralidade revolucionária, no esforço inesgotável, na paciência frente aos ataques incessantes no âmbito pessoal contra nossa militância, o segredo está no planejamento e na organização rigorosa de todos os pontos da campanha. Em verdade, montamos uma operação que não permitia outro resultado senão a vitória. A militância da Ação Libertadora Estudantil nunca, por nenhum segundo, desde a derrota no ano passado, pensou em perder a eleição neste ano na Unisinos. A militância da ALE estava preparada para qualquer coisa, desde uma eleição normal até uma eleição fora da normalidade democrática, o que foi buscado pela chapa lulista com provocações e bate-paus cutistas. Enfim, somente a vitória interessava na cabeça de cada jovem popular brasileiro e brasileira que lá estava em São Leopoldo e em Porto Alegre. Munida de uma grande firmeza política e de um programa fincado em diversos pontos econômicos, tão logo dialógico com estudantes oriundos da classe trabalhadora, os membros e apoiadores da Chapa 2 – Novo DCE tinham como única obrigação convencer e vencer. E assim fizeram. A seriedade e responsabilidade com a eleição eram tamanhas que somente depois da abertura das urnas, no começo da madrugada, já na contagem de votos, foi que a militância soltou gritos de guerra em comemoração pela vitória. E até nos gritos de guerra fomos responsáveis, evitando cânticos próprios da ALE por conta da pluralidade e amplitude afirmadas na proposta do Novo DCE. Isso só demonstra o quão somos diferentes daqueles que dançaram e zombaram da própria derrota num evento vexatório que lembra uma autoflagelação política.
Tratamos a eleição do DCE-Unisinos como uma batalha. E vencemos essa batalha! Os estudantes deram 1813 votos para a Chapa 2 – Novo DCE garantindo uma vitória maiúscula para oposição dirigida pela Ação Libertadora Estudantil. A diferença entre a nossa chapa e a chapa lulista foi de 955 votos, número de votos maior do que o recebido pela chapa lulista (858 votos). Nosso papel agora é colaborar para que a gestão do Novo DCE cumpra todo o seu programa, seja inovadora, seja plural, aberta, ampla, democrática, e seja efetivamente representativa. Fundada em 2014, a ALE dirige poucas entidades estudantis ainda, mas todas que dirige são modelos de gestão e encantadoras aos estudantes. E somos assim justamente para evitar que a direita cresça no pensamento estudantil médio, do mesmo modo que a tática “melancia” serve para impedir que a direita crie alternativas ao marginalizado movimento estudantil esquerdista tão caricato e desalentador a qualquer estudante médio. Os esquerdistas podem nos rotular como qualquer coisa, mas na prática o papel que cumpre a ALE é fundamental para o estrangulamento da capacidade organizativa dos movimentos reacionários. E a Unisinos está provando isso.
Vida longa ao Novo DCE da Unisinos!
Viva a Ação Libertadora Estudantil!
Na faculdade, na escola, Guerrilha no Brasil!
Aqui está a Ação Libertadora Estudantil!
Brasil, 16 de novembro de 2017.
Coordenação Nacional da Ação Libertadora Estudantil